Orientações contemporâneas no campo das ciências humanas e sociais em diversas tradições nacionais e internacionais, ênfases teóricas, temáticas e problemáticas têm buscado não apenas uma revisão conceitual dos cânones das ciências, bem como, têm denunciado a manutenção do terror colonial na ciência moderna na sociedade contemporânea, rompendo, assim, com os epistemicídios. Demarcados como “terror colonial” (GELARD, 2022) a continuidade da violência colonial na contemporaneidade, sendo traduzido pela negação da existência física e material do outro em sua diversidade. Dentre as utopias do eurocentrismo e do cientificismo está a presunção de universalidade, que se estabelece desincorporado, desinteressado e sem qualquer pertencimento geoespacial. (BERNARDINO-COSTA; MALDONADO-TORRES; GROSFOGUEL, 2019). Compreendendo a ciência como um campo de disputa, o projeto decolonial parte da necessidade de se afirmar um conhecimento politicamente corporificado, a partir de saberes, vivências e experiências subalternizadas (SPIVAK, 2010). Os movimentos sociais (negro, indígena, feminista, LGBTQIAP+, quilombolas, favelados) são, notadamente, exemplos do enfrentamento articulado dos “epistemicídios” (CARNEIRO, 2023) de suas experiências, saberes e ciência. A partir disso, este Simpósio Temático tem como objetivo discutir as dimensões do gênero, raça, classe, sexualidade, orientação sexual, território e marcadores sociais da diferença (HIRANO, 2019) de forma interseccional (CRENSHAW, 2002), transgredindo e rompendo com as imagens de controle (BUENO, 2019) sobre os corpos não hegemônicos (COLLINS, 2019). Nos interessa pensar as redes que se estabelecem, nesse campo, a partir das questões de agenciamento, ativismos, aquilombamento e direitos humanos (NASCIMENTO, A. 2022), que de algum modo atravessam as múltiplas experiências em processos subjetivos de pensar os marcadores sociais da diferença de forma interseccional. Desse modo, constituindo uma questão antropológica, histórica, política e epistemológica que coloca em xeque a colonialidade. Nesse campo de disputa, este ST objetiva acolher trabalhos que possibilitem reflexões e contemplem uma linha teórica-metodológica analítica decolonial de gênero e de raça (LUGONES, 2014), transfeminista (JESUS, 2105), antirracista (GONZALEZ, 2020) e interseccional (COLLINS,2021), a partir de pesquisas concluídas ou em desenvolvimento que versem sobre, e partir de, experiências de corpos-territórios periféricos subalternos. Assim são bem-vindos trabalhos desenvolvidos sobre: infâncias negras; infâncias trans; aquilombamento trans; transfemismos; enfrentamento da violência e seus diferentes aspectos. Pensando o enfrentamento dos efeitos do racismo, cissexismo e transfobia (CUNHA, 2021) que afetam os corpos como um sistema estruturante de afronecrotransfobia (REGO, 2021), busca-se desconstruir narrativas e de histórias únicas (ADICHIE, 2019).
Coordenadores/as: AMADEU CARDOSO DO NASCIMENTO, FABIANA PEDREIRA GELARD, YORDANNA LARA PEREIRA REGO